Shaabi
Estilo
musical bastante apreciado e atualmente muito divulgado em sites, blogues e
redes sociais, o Shaabi (شعبي) literalmente quer dizer popular. Esse
significado não se limita à dança ou ao estilo musical, mas a tudo que vem das
massas. Não apenas o Egito, mas também outros países do norte africano, como
Marrocos e Argélia, têm suas músicas estilo shaabi, cada um com suas
características distintas. No Egito, até 1970, os grandes cantores como Om
Khalsoum, Farid el Atrache, Mohamad Abdul Wahab e Abdel Halim Hafez dominavam o
cenário musical; suas músicas tinham ricas composições, linguagem clássica e
arranjos sofisticados. Em 1971, Ahmad Adaweia, egípcio de origem baladi, se
lançou com grande sucesso, cantando músicas que retratavam os anseios, os
sonhos e as dificuldades da classe trabalhadora. Sua linguagem era a das ruas
do Cairo, cheia de gírias e até de duplo sentido. Muitas de suas músicas, como
por exemplo “Habba Fo` u Habba Taht” (“uma parte está em cima e a outra está em
baixo”), se referem à classe de elite egípcia que sempre se beneficia, enquanto
a classe trabalhadora não consegue progredir. Contestando a burguesia egípcia,
esteve sujeito à censura, principalmente no início de sua carreira. Os cantores
shaabi atuais têm cada um seu estilo próprio e uma visão pessoal sobre a
vida, mas todos admitem que foram influenciados por Adaweia, como, por exemplo
o cantor de grande sucesso Hakim, de voz inconfundível, considerado “Sheikh do
Shaabi”, que cresceu com o som da classe trabalhadora e suas raízes do sul do
Egito. Com a influência de Adaweia, começou a praticar desde cedo as
improvisações vocais típicas do shaabi chamadas mawals. Outro
cantor muito popular é Shaaban Abdel Rahim que, antes de se tornar artista,
viveu como trabalhador humilde. Fez várias músicas de protesto político sobre a
situação de violência contra os países árabes. Muitas de suas músicas foram
vendidas informalmente, devido à censura do governo, mas sua linguagem informal
e letras extremamente sinceras fizeram imenso sucesso por todas as ruas do
Cairo. Inúmeras músicas shaabi também têm um tom engraçado, brincalhão,
insolente. No shaabi, tudo é válido: sons de carro, telefone, pato,
vozes engraçadas, risadas, gírias, duplos sentidos até de conotação sensual, e
temas do simples cotidiano e do amor. Tudo isso reflete o espírito do povo
egípcio do subúrbio. Quem teve a oportunidade de vivenciar essa realidade,
percebe o quanto enriquecedor é observar as mulheres egípcias suburbanas, com
seu tom de voz alto, fala cantada, gestos de mão frenéticos, expressão que não
se limita ao rosto, mas que percorre todo o corpo, mexendo os ombros e levando
as mãos às cadeiras. Mulheres que são capazes de bater no marido, se perceberem
que esses estão com a intenção de se casar com uma segunda esposa, o que nos
mostra essa mistura de comédia e drama que permeia a vida desses egípcios. Os
homens, com olhar namorador, mas ao mesmo tempo pasmos com a presença feminina,
em alguns momentos demonstram certa ingenuidade no que se refere ao amor, mas
ao mesmo tempo uma malandragem sem igual. E na dança, como isso reflete? É
preciso saber a letra da música para se dançar shaabi? Ah, é bastante
importante... O ideal é compreender a letra, sim, ao menos o tema da música
para que a sua expressão facial e corporal seja condizente com o significado e,
mais do que isso, para que você possa escolher a música que quer interpretar,
não apenas pela composição musical e ritmo, mas por aquilo que a música
expressa. É claro que a dança deve retratar o tema da música, mas se deve ter o
cuidado de não transformar sua performance em mímica. A dança pode conter
gestos mais marcantes que irão enriquecer sua interpretação, mas seu excesso
pode remeter a uma apresentação infantil. O mesmo se aplica a cantar a letra da
música, o que é muito válido se, no calor da emoção, isso acontecer
espontaneamente ou mesmo se for para dar ênfase a alguma parte que esteja
interpretando, mas também se deve ter moderação, já que o excesso pode tornar
sua apresentação mais uma dublagem do que propriamente uma dança. Como a música
tem tema e linguagem mais informal, os movimentos são mais soltos do que na dança
clássica, cujo alinhamento corporal é mais elegante. No shaabi, os
movimentos são mais simples, porém com bastante sentimento. Para enriquecer sua
dança, é preciso prestar atenção nos instrumentos que estão tocando em cada
parte da música. Cada instrumento tem uma característica distinta e suas
combinações também. Geralmente na voz do cantor, você vai usar movimentos mais
contidos, mais intimistas. Já quando entra o coral ou toda a orquestra, os
movimentos são mais fortes, expansivos, permitindo maior deslocamento. Nas
partes em que se evidencia a percussão, os movimentos de quadril com batidas e shimmies
devem ser mais utilizados. É importante lembrar que cada pessoa tem uma bagagem
e uma personalidade distinta, e assim, cada dança vai ser carregada de interpretação
pessoal; a forma de traduzir a emoção em movimentos vai ser diferente, e
principalmente a expressão facial de cada bailarina deve ser fiel a ela mesma,
para que mesmo dançando estilos de música completamente diferentes, seu estilo
pessoal seja marcante.
Texto de Munira
Magharib
***********(artigo
publicado na Revista Shimmie)
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